JOHN NICHOLSON – ON THE WIND

Vanda Klabin / curadora / abril de 2023
Galeria Patricia Costa. RJ

John Nicholson. nascido em Comanche, no Texas, fixa residência no Rio de Janeiro, em 1977, após ter frequentado a Universidade de Houston e a Universidade do Texas, nos Estados Unidos.

Contratado como professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage/RJ, em 1980, estruturou um programa de aulas baseado no desenho de observação e teorias da cor. Participa de várias exposições junto com artistas atuantes no cenário cultural, como Luiz Aquila e Claudio Kuperman, que originou a parceria da produção de um painel de grandes dimensões intitulado Big Screen, em 1984, exposta no Centro Cultural Cândido Mendes, que  reafirma a vitalidade da pintura. Sua trajetória profissional como pintor e professor, inclui a sua participação no movimento conhecido como Geração 80, formada por um grupo de jovens artistas cujos trabalhos estão relacionados à uma revalorização das técnicas de pintura, em contraposição às vertentes conceituais da arte brasileira na década de 1970. Travei conhecimento com Nicholson na década de 1980, ao realizar duas exposições individuais na Galeria Paulo Klabin, RJ, período em que já florescia a força contemporânea de sua pintura. Nicholson dava realidade a essa linguagem plástica e atualizava o debate em torno dela.

A linguagem pictórica sempre foi o elemento agregador de seu pensamento estético, que hoje o torna detentor de uma vasta produção que abrange cerca de quarenta e cinco anos de atividade artística. A produção sistemática de Nicholson com o passar dos anos, configurou um campo pictórico autônomo, marcado pelo espírito de pesquisa permanente e pela desenvoltura de um gesto expansivo. A pluralidade de agenciamentos está presente no seu constante diálogo com as vertentes das tendências artísticas modernas e contemporâneas como Henri, Matisse, Edgar Degas, Paul Cézanne, Édouard Manet, Robert Rauschenberg, Claus Oldenburg, Bill Auzalone, Jasper Johns, Richard Diebenkorn, entre outros.

Sua pintura composta pela combinação de superfícies coloridas, inicialmente figurativa, passa a apresentar a superposição de planos e cores, às vezes, em transparências. Superfícies porosas, escorridas ou acumuladas de matéria pictórica, ganham amplitude através de sua gestualidade, cujo sistema de turbulência possui um grau de movimento oscilantemente rápido, muitas vezes com intensa vibração e tessituras nervosas. Entrelaça os vibrantes contrastes cromáticos, em certos momentos, as cores também parecem se dissolver uma nas outras, se sobrepondo e adquirindo uma aparência indefinida. John afirmou que “a pintura é um longo processo, e cada quadro é só parte desse processo. Cada quadro não importa tanto, o que importa é o percurso.”

Fascinado pelo vaivém da vida, sua produção artística transita entre o figurativo e o abstrato. Os registros urbanos e seus personagens são tratados como volumes pictóricos e estruturam todo o espaço em um sistema de representação por planos e volumes. O cenário banal e cotidiano, suas tarefas rotineiras, seus silêncios, seus ruídos, o fluxo da vida e por vezes a natureza, evocam imagens de paisagens e são apropriados pelo olhar do artista como um ingrediente ativo para o seu trabalho. Observar o momento ao seu redor como um evento plástico, capitaliza uma atmosfera mais intimista que remete à natureza despreocupada da estreita coligação arte/vida, ao conectar o mundo real através de cenas imediatas do cotidiano. São diferentes escutas, instigantes nas suas qualidades poéticas, beneficiadas pelo caráter aberto de seus diversos procedimentos artísticos

John Nicholson exerce uma intensa disciplina no seu ateliê em Copacabana, RJ. O exercício livre da pintura é o seu principal veículo expressivo. A presença primordial de vibrantes combinações de planos de cromáticos preludiam a construção de seus trabalhos e de sua poética tonal. É em torno das questões no campo da pintura, tomada como fio condutor do seu trabalho, que John Nicholson sinaliza os novos discursos da sua experiência estética, que reside no próprio ato de pinta. O artista parece estar sempre provocando novas situações.

A exposição dá ênfase à trabalhos em formatos de grande escala, com novas soluções, agora uma paleta com intensas vibrações coloridas e pinceladas oblíquas. As telas em grandes dimensões estão presentes em sua inquietude atual e, por vezes, os dípticos ou trípticos são realizados em momentos diferenciados. As pinceladas coloridas provocam oposições espaciais que configuram relações prováveis mas não necessárias. Sua ordenação espacial é permutável, as pinceladas flutuam pela superfície da tela e não estão submetidas à nenhuma gravidade, beneficiadas pela emergência de seus diversos procedimentos artísticos. A distribuição irregular de ritmos e cores se diluem ao mesmo tempo em que aparecem na superfície da tela. Extensos planos de cores, que muitas vezes escoam, perdem a sua massa corpórea ou flutuam no perímetro da tela. Aqui são chamadas a depor sobre o território sensível da pintura e sua contemporânea vitalidade, sempre presentes para dinamizar as suas infinitas possibilidades de ordenação do espaço. John Nicholson atualiza a sua experiência estética através de seu repertório particularizado, acionado pela abstração lírica e sua própria visão da linguagem artística.