INTERCÂMBIO ENTREVISTA JOHN NICHOLSON
AO MESTRE COM CARINHO
A Intercâmbio Cultural Arts tem a finalidade de promover o trabalho dos artistas brasileiros que realizam trabalhos no exterior e também de promover os artistas internacionais que amam nosso país e expõem aqui no Brasil. Hoje nossa entrevista é com John Nicholson, que veio do Texas para o Rio de Janeiro em 1977, iniciando sua carreira de professor de pintura na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, em 1980.
Por causa de sua atuação como pintor e professor nesse período, Nicholson torna-se um dos mestres da chamada Geração 80, lançada no Brasil em exposição histórica realizada no Parque Lage em 1984.
A música clássica tocando baixinho no atelier, e o tom de voz suave podiam não denunciar o espírito revolucionário, mas o fato é que eu estava diante de um dos mestres da famosa “Geração 80”, a que rompeu as doutrinas acadêmicas dentro das artes plásticas e influenciou tanto nas raízes nacionais quanto no âmbito internacional. Assim como no filme “Ao mestre com carinho”, onde Sidney Poitier interpreta um professor idealista disposto a mudar a sociedade, John, em 1980, participa de diversas mostras coletivas no Rio de Janeiro e produz, em conjunto com Luiz Aquila e Claudio Kuperman, a Grande Tela, gigantesco painel que representa um claro manifesto de afirmação da pintura.
John participou da 2º e da 3º MundiArt, trazendo peso e credibilidade para a exposição, com o tom intimista de suas obras
Confira a entrevista com John Nicholson:
[Intercâmbio] Gostaria que você contasse um pouco sobre você e seu trabalho…
Qual seu primeiro contato com a arte? Quando começou a pintar?
[John] – Era dito na minha família que quando tinha dois anos, eu desenhava trens em perspectiva de um ponto de fuga, mas de cabeça para baixo.
Não lembro nada disso. Nenhum desses desenhos foram guardados e conseqüentemente não há como confirmar a veracidade disso. Comecei ver arte aos quatro anos quando mudamos para uma cidade satélite de Houston, Texas; e com essa mudança, meus pais sempre me levavam para o Museu de Belas Artes que já havia nessa época a extensão-anexo para arte moderno feito por Mies. Também, volta e meia me levavam para o escritório do meu tio onde sempre havia muitos quadros da coleção da Universidade de Houston quais iriam se mudando para pendurar outros quadros recém chegados. Morava perto da biblioteca público da cidade satélite onde havia uma ótima coleção de livros de arte e periódicos como “Art in América”, etc….
[Intercâmbio] Qual sua formação e a influência dela hoje no processo criativo?
[John] – A Universidade de Houston e a Universidade de Texas em Austin são as principais faculdades. Não sou formado em Belas Artes não. Sou formado em ciências e na Teoria de Sistemas Gerais principalmente. Fui para vários lugares na minha época de formação e estudava com pessoas específicas nelas. Quando tinha tempo e oportunidade, fazia aulas de atelier ao longo daqueles anos formativos. Havia na Universidade de Houston dois professores quem me influenciaram. Bill Anzalone em pintura e Peter Gunter em História de Arte. Minha amizade com Bill continua ativa, mas perdi contacto com Dr. Gunter quando deixei a Universidade de Houston. Exceto para esses dois, não há e não houve influências outras vindo das faculdades que reconheço conscientemente no meu trabalho. Quando no início da década de 80 Luiz Aquila e eu saiamos juntos para a cidade e conversávamos sobre os edifícios se sobrepondo, aprendi mais sobre espaço pictórico do que aprendia em todos das salas e atelieres de aula – excetos nas aulas de Anzalone.
[Intercâmbio] Quais são as suas fontes de inspiração? Você possui algum modelo ou influencia de algum artista?
[John] – Bill Anzalone me mostrou como organizar e se proceder no atelier e a pintura dele me influencia bastante, especialmente agora que voltei recentemente para pintura figurativa. Bill é um pintor figurativo. Richard Diebenkorn, Frank Stella, e Malcomb Morely são influências fortes. Cézanne, Degas, Manet, Matisse, Corot, Rubems são todos influências, junto com Eric Fischl como um contemporâneo, e Aluizio Carvão como modelo de pintor.
[Intercâmbio] Existe algum elemento comum nos seus trabalhos? Qual/quais?
[John] – Formalmente: cor e o emprego singular de branco (e/ou de pretos) nas composições, mesmo nos trabalhos figurativos mais antigos meus e extendendo se para os trabalhos abstratos de 1990 até 2005, e claro, hoje em dia tambêm. Quase não emprego a narrativa na minha obra. A exceção são os quadros de 1985 até 1993 com bastante narratividade e símbolos, mas antes disso e depois, quase não tem, se tiver. Sou um pintor e desenhista quem procura a forma principalmente.
[Intercâmbio] Como você define seu estilo?
[John] – Sou um pintor quem percebe que não existem barreiras entre figuração e abstração e utilizo essa percepção na minha obra inteira.
[Intercâmbio] Como você define a arte contemporânea?
[John] – A arte contemporânea é um processo empresarial bem mais perto à indústria da moda e marketing do que da arte. Diria que tem pouco ou nada haver com arte.
[Intercâmbio] O que mais te agrada na arte contemporânea hoje? Quais artistas são relevantes para você?
[John] – Alguns dos pintores jovens Alemães de Leipzig e Dresden. No Brasil, Henric Oliveira, Lucia Laguna, e Daniel Feingold. Mas duvido profundamente que pintor ou escultor algum se enquadra mesmo na categoria de Arte Contemporânea. Do resto, nada me agrada da arte contemporânea.
[Intercâmbio] Quem são os artistas que considera mais importante de sua geração?
[John] – Eric Fishl, Julian Schnabel, Johnathan Lasker, Suzan Rothenberg. Anselm Keiffer. No Brasil: Luiz Aquila, Claudio Kuperman, João Grijó.
[Intercâmbio] Atualmente, quais trabalhos tem realizado?
[John] – Estou fazendo agora uma serie de quadros e aquarelas figurativos baseados no modelo vivo (quem mais uso). Ela fica sentada num sofá, ou em volta desse. O sofá tem uma capa vermelha e nas composições, há grandes áreas altamente iluminada pelo sol. Estou trabalhando nesses motivos hoje agora nesse verão.
[Intercâmbio] Qual a sua visão a respeito do mercado de arte hoje?
[John] – Há a arte contemporânea globalizada com suas instituições: Feiras de Arte, Casa de leilões, cotações das artistas, Bienais, Documentas, Publicistas, Galerias, Museus, grandes Bancos com seus operadores especializados avançando créditos para colecionadores de Arte Contemporânea: coleções das corporações e coleções particulares dos CEOs.
Também, há as galerias recebendo seus clientes e vendendo quadros para eles. Essas não estão tantas ou quase em nada estão no sistema globalizado.
[Intercâmbio] Você participou de várias feiras de arte pelo mundo. O que você pensa sobre a crescente importância que as feiras passaram a ter frente a Bienais e outras mostras não comerciais na definição de conceitos e tendências da arte contemporânea?
[John] – As Feiras de Arte reforçam as cotações das galerias e das suas artistas no mercado de arte. Tudo disso está mudando atualmente por causa da recessão-depressão do Primeiro Mundo. Mesmo assim, as Feiras de Arte ainda tem vitalidade. O problema é que compram se pouco nas Feiras na Europa pelo menos. Dizem que a Feiras de Nova York e Miami ainda vendam bem. Também há muitas dessas feiras espalhadas para tudo que é canto. Nesse ano, vou participar na Feira de Shanghai de novo junto com a Feira de Arte de Montecarlo no final de Abril. Vamos ver como as Feiras de Arte vão continuar nesse ambiente de escassez generalizado. Tudo indica que o Primeiro Mundo já está entrando nos mesmos processos nos quais Brasil entrou a partir do início dos anos 80 e onde continuou durante 18 anos pelo menos.
[Intercâmbio] Quais temas, projetos ou características pretende desenvolver ao longo deste ano?
[John] – Estou pintando os quadros para uma exposição que vou fazer no Rio nesse ano ainda ou no ano que vem. No inverno, vou desenhar mais as paisagens do Rio.
[Intercâmbio] Todo artista tem um mentor, aquela pessoa a quem você se espelhou, que te incentivou e te inspirou a seguir essa carreira, indo adiante e levando seus sonhos a outros patamares de expressão, se você fosse o mentor de alguém, oque diria, para começar?
[John] – Vá para onde mais se senti feliz e que der te entusiasmo. Esqueça das hierarquias da arte e dos seus estrelatos para acompanhar seu coração para onde ele te mande.