EXPOSIÇÃO NO PAÇO IMPERIAL
O Paço Imperial vem se caracterizando, desde sua inauguração em 1986, como um espaço de exposições históricas e, sobretudo, de manifestações artísticas contemporâneas. Nada mais normal par um centro histórico do patrimônio, órgão que, desde a sua criação pelos principais intelectuais modernistas em 1937, estabelece uma ação dialética entre o novo e a tradição. Outro diálogo estabelecido pelo Paço é aquele com a cidade. Por um lado, procura estabelecer um padrão de qualidade e uma constância na dinâmica de suas realizações, servindo de pólo cultural irradiador. Busca, por outro lado, “ouvir” as solicitações da cidade, no sentido de se inserir afetivamente em sua trama de atividades, passando a ser mais um elemento das teias de relações urbanas. Atendendo a uma demanda da sociedade, o Paço Imperial intensificou em 1994 na sua programação a vertente de artes plásticas. Exposições que, refletindo o momento plural, apresentavam uma diversidade de tendências, linguagens e suportes. Decidiu-se, igualmente, inaugurar as amostras em bloco, em um mesmo dia, de modo a evidenciar suas possíveis semelhanças, pontos de contatos e diferenças. Neste março de 1995, em prosseguimento a esta linha de atuação, inauguramos um novo bloco de exposições, dentre as quais a de John Nicholson. Nela o espectador poderá acompanhar os últimos quatro anos da produção do artista. As telas, executadas entre 1990 e 1994, originam-se de um quadro de 1989, coincidentemente intitulado “Source”. Retrata a fonte em frente ao Parque Lage, no qual são explicitados elementos que se encontravam submersos em um caldeirão de cor nas telas expressionistas da paisagem carioca. Na produção de 1991, um dos paladinos da nova pintura transcarioca, em certa crise carinhosa com o pincel ou, talvez, não querendo repetir fórmulas já sem surpresa, resolve adotar novos procedimentos ligados muito mais a processos serigráficos do que à pintura. A separação de cores, a intervenção mecânica, o uso de “strncils” e instrumentos distanciam da matéria e evidenciam os gestos. Esses, em muitos casos mecanizados, permitem destaque ao gesto pessoal quando este realmente acontece. Brincadeiras com “falsos” gestos para contrastar com outros que realmente contam, os “beaux-gestes”. Nessa subversão de técnicas e no uso de formas comprimidas e ambivalentes a espátula assume o lugar do pincel e o mecânico se alterna com o individual. Na produção mais recente povoam as telas cores secas, dramas pictóricos, citações apenas aparentemente “pops” e outras francamente “pops”. Pistas falsas, referências, aspas e aparências. O verde subverte a bandeira americana, assim como a contração prepositiva em português fornece outra perspectiva a “Imagine na América. Em outro quadro, um colar de pérolas, elipse erótica, estrutura significados em vários níveis de leitura. Já conciliados, aqui, o expressionista despojado de excessos matéricos- e o “seri-pintor”. As citações se entremeiam como cores, formas, composições. Todos “Under higer powers”, aqueles do olho. Uma vez que, para Nicholson, a visualidade atua enquanto linguagem na sua mais densa e irredutível expressão.